As respostas, certamente, variarão muito entre cada um de
nós.
Elas serão variadas porque cada um de nós tem uma
compreensão
sobre o que é a Arte e, a partir dessa primeira noção, para
que ela
serve. Também serão variadas porque não há, entre nós, uma
mesma
compreensão sobre o que é útil, ou o seu contrário, inútil.
Alguém que acredita que Arte é “apenas” ficar pensando sobre
as “coisas do mundo”, divagando com a mão no queixo, sem
nenhum
método ou disciplina, pode afirmar que a Arte não tem,
digamos,
muita utilidade, sobretudo se essa pessoa entender que
utilidade está
ligada a resultados práticos, materiais e imediatos.
Outra pessoa que acredita que a Arte inclui uma atitude,
métodos e que resulta, portanto, em um pensamento
sistemático,
lógico, poderá enxergar alguma serventia na Arte, ainda se
essa
mesma pessoa acreditar que a elaboração de um pensamento
sistemático tenha alguma utilidade.
Ou seja, a nossa percepção da utilidade da Arte está
relacionada à concepção que dela temos, bem como o sentido
que
atribuímos à utilidade ou inutilidade das coisas/atos.
Assim, eu convido você a pensar sobre o que você tem considerado
ser útil na sua vida e por quê?
“o que é o útil?”,
“Para que e para quem algo é útil?”, “O que é inútil”, “Por
que e para
quem algo é inútil?”.
O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá
prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos
resultados visíveis
das coisas e das ações, identificando sua possível
utilidade, como na
famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Não poderíamos,
porém,
definir o útil de uma outra maneira?
Qual seria, então, a utilidade da Arte?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum
for
útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias
dominantes e aos
poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a
significação do
mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o
sentido das
criações humanas na filosofia, nas ciências e na política
for útil; se dar a
cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem
conscientes
de si e de suas ações numa que prática que deseja a
liberdade e a
felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a
Arte é o
mais útil de todos as expressões de que os seres humanos são
capazes.
Então: o
que é útil para você?
As respostas são variadas e bastante pessoais. E, vale a
pena
prestar a atenção nisso, cada vez que elegemos o que é útil
para nós,
estamos tratando de mostrar aquilo que tem valor para nós.
E,
atentem, cada vez que definimos o que tem valor para nós,
estamos
explicitando parte da nossa visão de mundo, de como
entendemos as
coisas.
Por exemplo: se eu considero que passar uma tarde toda
estudando espontaneamente um texto, ou um livro, é uma perda
de
tempo, é porque provavelmente eu não atribuo valor àquela
atividade,
e a considero um tanto cansativa e sem sentido. “Para quê
ficar
lendo/estudando?”.
Nesse caso, não há utilidade para mim, a não ser que seja um
texto obrigatório, da faculdade, e que será cobrado depois.
Aí, neste último caso, há uma
utilidade: leio o texto porque preciso sabê-lo para
responder às
questões e fazer a prova.
Do mesmo modo, se eu considero muito divertido passar aquela
mesma tarde dançando, jogando futebol, é porque eu atribuo
valor
àquela atividade e vejo nela alguma utilidade. No caso, a
utilidade
está ligada à idéia de diversão. Eu danço (ou jogo futebol,
ou saio com
os (as) amigos (as)) porque quero me divertir, afinal de
contas
trabalhei a semana toda.
Então, se eu considero que o valor está só na diversão, eu
só
verei utilidade em algumas atividades; se eu considero que o
valor está
só no estudo, eu só enxergarei utilidades em algumas atividades.
O interessante é perceber que é possível encontrar valor
tanto
numa atividade como em outra: posso (e devo!) considerar
útil, depois
de uma semana de estudo e trabalho duros, sair com os amigos
e me
divertir, sem pensar em nada, nem nas aulas de Arte. Como
também
posso (e também devo!) considerar útil estudar/ler, depois
de passar o
carnaval inteiro em Recife, pulando, pois nem só de folia se
alimenta
meu corpo e minha mente.
Reparem que esses exemplos são simplesmente exemplos. Não
estou opondo, numa relação necessária, estudo e diversão. É
só para
pensarmos, por alguns instantes, sobre o que consideramos
útil e por
quê? Ao fazermos isso, já estamos, de algum modo, recorrendo
à
Arte.